Essa é uma dúvida recorrente a muitos professores dentro da esfera de escolas inclusivas. Recebi um aluno surdo, o que fazer agora? Eu te conto, fica calmo (a)!
Considerando que este aluno passou por diversas perdas linguísticas e de conhecimento de mundo que acarretaram dificuldades na leitura e escrita da língua portuguesa, o seu conteúdo precisa ser adaptado.
Se pensarmos nesse momento de pandemia, a necessidade é maior ainda. Se você está em uma escola em que você não tem intérprete, a necessidade se torna imperativa.
Mas, adaptar não é tão fácil quanto dizem, mas também não é impossível. Vou deixar algumas recomendações aqui para você e no final um link do meu site com um exemplo prático de como explicar visualmente um conceito mais complexo.
Se você tem intérprete em sala de aula:
- Repasse o conteúdo para o intérprete antes da aula, para que ele possa se preparar e pesquisar os sinais necessários para a interpretação. - Combine as possibilidades de que ele te acompanhe nos vídeos e lives, interpretando os conteúdos. - Você pode falar normalmente enquanto o intérprete traduz, a não ser se o mesmo pedir para que você fale mais devagar. - Fale diretamente com o surdo e não com o intérprete. O intérprete por sua vez, irá traduz o que você disse. - Durante as aulas, é normal que o surdo mantenha a atenção dividida entre o intérprete e você, para acompanhar em Libras o que você está dizendo.
Se você tem um aluno surdo oralizado que não faz uso da Libras:
- Seja expressivo ao falar com ele, pronunciando bem as palavras, sem exageros. - Use um tom normal de voz. - Fale posicionado em frente ao surdo ou bem próximo do seu campo de visão, sempre em local a favor da luz. - Durante a conversa, mantenha sempre contato visual com o surdo receptor da mensagem.
Sobre as aulas:
- Evite falar e passar dever ao mesmo tempo. O surdo é visual, ele não copia ouvindo a matéria, como faz o ouvinte. Logo, ele copia ou presta atenção na explicação feita em sala de aula. Estabeleça um critério: primeiro passe o dever ou conteúdo para depois explicar. Ou explique primeiro e reserve um tempo para que os alunos copiem. - Permita, sempre que possível, a consulta a dicionários, o apoio de vocabulário, calculadora, tabuada e outros recursos didáticos. - Utilize imagens nas aulas, atividades e avaliações. - Possibilite a realização de atividades em dupla ou em grupos. - Utilize vídeos e filmes com Libras e legendados. - Em salas de aula inclusivas, dê prioridade para que os surdos sentem mais à frente para melhor acompanhamento das aulas e posicionamento do intérprete. - Quando precisar falar algo com o surdo e não tiver quem interprete use aplicativos como HandTalk e VLibras.
Sobre os conteúdos: - Você pode diferenciar as atividades e avaliações, mas não diferencie os conteúdos. O aluno surdo tem direito a aprender os conteúdos, esses deverão ser adaptados para seu conhecimento e compreensão, mesmo que não seja avaliado neste quesito. - Ao planejar, o professor deverá considerar as especificidades do aluno com surdez. - Evite ditar, caso utilize esse recurso, é necessário que o professor entregue o texto digitado ou fotocopiado para o aluno surdo.
Sobre as avaliações: - As avaliações devem ser contextualizadas com o assunto trabalhado na sala de aula. - Você pode usar outras estratégias de avaliação como usar imagens e avaliação “oral” (que para o surdo seria sinalizada). Peça que ele desenhe ou marque qual figura que representa o que você ensinou. Peça para que ele encene o que aprendeu. - Utilizar questões de múltipla escolha. Faça provas mais objetivas, embora algumas poucas questões discursivas possam aparecer na prova (uma ou duas), porém você deve se lembrar que elas demandarão o triplo do tempo ou de esforço que um ouvinte precisaria normalmente. - O enunciado e as alternativas devem ser elaboradas de forma clara e objetiva, evitando que as mesmas tenham palavras semelhantes. Visto que no momento da tradução para libras, muitas palavras semelhantes ou de mesmo significado são correspondentes a um mesmo sinal. - Evitar o emprego dos verbos: justificar, explicar, escrever, exemplificar ou outros verbos semelhantes que requeiram respostas discursivas, pois os alunos com surdez em questão apresentam vocabulário restrito. Se utilizar questões assim, você pode pedir ajuda para o intérprete para entender o texto escrito pelo aluno surdo. - Caso utilize verbos como acima citados, o aluno poderá responder em Libras e o Intérprete fará a versão voz ou papel de escriba. - Questões que pedem a opinião do aluno devem ter um embasamento contextual amplo para que o aluno possa se ambientar antes de responder. - Quando fizer questões de completar lacunas, faça uma caixa de palavras para a associação. - Utilize gravuras e imagens nítidas e de fácil compreensão. - Elaborar questões para que o aluno indique (F) para falso ou (V) para verdadeiro com assertivas claras. - Evite várias avaliações no mesmo dia, considerando que o tempo para fazer uma avaliação já é mais estendido do que o dos ouvintes. - Evite avaliações extensas. - Mude a temporalidade na execução das avaliações, permitindo que o surdo faça a avaliação em duas ou três aulas.
No caso de avaliar textos escritos de aluno surdo, siga as orientações do MEC[1]: 1. Dê ênfase ao aspecto semântico da mensagem em detrimento ao aspecto estrutural; 2. Verifique a presença ou não dos termos essenciais e complementares das orações; 3. Estabeleça, com o aluno, a comparação entre a sintaxe da Libras e da Língua Portuguesa. [1] Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. [2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. – Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006.
Comments